O Brasil consolidou nesta quinta-feira (6) um dos passos mais importantes da sua diplomacia climática ao anunciar a adesão de novos países ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). A iniciativa, lançada oficialmente em Belém, já reúne US$ 5,5 bilhões em compromissos financeiros e se torna uma das principais vitrines do país durante a Cúpula de Líderes da COP30.
O maior aporte veio da Noruega, que confirmou o investimento de US$ 3 bilhões ao longo de dez anos. Além dela, Brasil, Indonésia e França também formalizaram suas contribuições. O fundo, idealizado pelo governo brasileiro, propõe um novo modelo de financiamento climático: em vez de doações, ele utiliza um sistema de investimentos de renda fixa para gerar lucro e remunerar países que conservam suas florestas.
Um novo modelo de preservação ambiental
O TFFF foi concebido como um mecanismo financeiro de longo prazo voltado à conservação das florestas tropicais. Sua estrutura adota o formato de um fundo de investimento de renda fixa, administrado pelo Banco Mundial, com a missão de mobilizar até US$ 125 bilhões por meio da combinação entre recursos públicos, privados e títulos verdes emitidos no mercado internacional.
A lógica é simples e inovadora. Os recursos aplicados são destinados a investimentos sustentáveis e seguros, que geram retorno financeiro. A diferença entre o rendimento obtido e o valor pago aos investidores — o chamado spread — é revertida para nações que mantêm suas florestas em pé, de forma proporcional à área preservada.
Segundo o governo brasileiro, 20% dos repasses anuais serão destinados obrigatoriamente a povos indígenas e comunidades locais, reforçando o papel dessas populações como guardiãs das florestas. O fundo também proíbe investimentos em combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, garantindo alinhamento com as metas de transição energética global.
Países participantes e compromissos anunciados
A Noruega lidera a lista de investidores internacionais com o maior aporte já confirmado. O primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Støre, destacou a urgência da ação global contra o desmatamento.
“Não temos tempo a perder se quisermos salvar as florestas tropicais do mundo. O novo TFFF pode oferecer financiamento estável e de longo prazo aos países relevantes”, afirmou o líder norueguês.
O ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Andreas Bjelland Eriksen, detalhou que a contribuição será feita ao longo de dez anos, com algumas condições: a participação norueguesa não deve ultrapassar 20% do total do fundo, e o TFFF precisa atingir US$ 10 bilhões em aportes globais.
Além da Noruega, o Brasil e a Indonésia comprometeram-se com US$ 1 bilhão cada, enquanto a França anunciou US$ 500 milhões. Portugal e Holanda também confirmaram adesão, com valores menores voltados à estruturação operacional do fundo. A Alemanha manifestou interesse e deve oficializar sua contribuição nos próximos dias, conforme adiantou o chanceler Friedrich Merz durante a cúpula.
Um instrumento estratégico na COP30
Embora o TFFF não seja um tema oficial da COP30, a proposta ganhou destaque entre os líderes mundiais presentes em Belém do Pará. O fundo se tornou uma vitrine diplomática do Brasil, reforçando sua imagem como articulador global em políticas de bioeconomia, justiça climática e proteção da Amazônia.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, celebrou o avanço da proposta e afirmou que o TFFF já alcançou metade da meta de captação prevista para o primeiro ano.
“Tanto recursos públicos quanto privados terão o seu dinheiro de volta, e o mais importante: o dinheiro de ida também para a proteção das florestas”, declarou Marina, destacando que o modelo alia retorno financeiro e impacto ambiental positivo.
Para o governo brasileiro, o fundo representa uma revolução na forma de financiar a conservação. Diferente de doações pontuais, o TFFF cria um mecanismo permanente e autossustentável que transforma a preservação florestal em ativo econômico global.
Debates e críticas sobre eficácia e governança
Apesar do entusiasmo internacional, o fundo também divide opiniões entre ambientalistas e especialistas em economia verde.
Alguns questionam a dependência de instituições financeiras globais, como o Banco Mundial, e pedem mais clareza sobre os métodos de distribuição dos recursos e os critérios de medição da conservação.
Para grupos da sociedade civil, é essencial garantir transparência total na governança e assegurar que os recursos cheguem diretamente às comunidades que protegem a floresta, evitando a burocracia e os gargalos que muitas vezes limitam o impacto de fundos multilaterais.
Mesmo com essas críticas, há consenso sobre o potencial transformador da proposta. Se o TFFF atingir sua meta de US$ 125 bilhões, ele pode se tornar o maior fundo ambiental do mundo, com capacidade para reduzir emissões de carbono, estimular economias locais e valorizar os serviços ecossistêmicos das florestas tropicais.
Um novo paradigma para o futuro climático
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre simboliza a busca por um modelo de desenvolvimento que une finanças e natureza. Com apoio crescente de países europeus e asiáticos, a proposta consolida o papel do Brasil como liderança ambiental global, capaz de promover soluções práticas e inovadoras para o combate às mudanças climáticas.
A iniciativa reforça que preservar a floresta é mais do que um dever ambiental — é uma oportunidade econômica e social. O sucesso do TFFF pode redefinir o futuro das florestas tropicais e servir como exemplo de cooperação internacional em um mundo que busca conciliar crescimento sustentável e equilíbrio climático.
