O mercado de celulose vive um momento crítico. Após 13 meses consecutivos de queda nos preços internacionais, a Suzano, maior produtora mundial de celulose de eucalipto, emitiu um alerta sobre um possível colapso global da celulose. Segundo a empresa, os preços atuais são insustentáveis e parte significativa da capacidade produtiva mundial já opera abaixo do custo de caixa.
Neste artigo, vamos detalhar as razões desse cenário, os impactos regionais e como a Suzano pretende atravessar o ciclo adverso com estratégias de eficiência operacional, disciplina financeira e diversificação de negócios.
Por que o mercado de celulose está em crise
O alerta da Suzano aponta que a combinação de demanda mais fraca em algumas regiões, excesso de capacidade produtiva e custos crescentes de insumos criou condições para um colapso global.
Segundo estimativas internas, 15% da capacidade global de fibra curta opera abaixo do custo de caixa, ou seja, produzindo sistematicamente no prejuízo.
O cenário reflete um descompasso entre oferta e demanda: enquanto o setor passou anos expandindo a capacidade de produção, a desaceleração econômica em mercados desenvolvidos, mudanças regulatórias na China e ajustes no consumo reduziram a absorção de celulose.
Tabela 1 – Capacidade de produção x custos
| Região | Capacidade operacional abaixo do custo de caixa | Principais fatores |
|---|---|---|
| Europa | 25% | Custos altos de energia e logística |
| Ásia (China) | 10% | Preço elevado de cavacos e restrições a fibras recicladas |
| América Lat. | 5% | Ajuste de oferta e custos de transporte |
O resultado é que os produtores mais eficientes conseguem atravessar o ciclo, enquanto os menos competitivos enfrentam risco de paralisações.
Ajustes de oferta e paralisações
Segundo a Suzano, a saída do ciclo adverso ocorrerá principalmente pelo lado da oferta. Paralisações temporárias ou desligamentos definitivos devem atingir unidades com custos altos e baixa produtividade. Operações com logística cara, florestas de baixa produtividade ou ativos antigos são as primeiras candidatas a reduzir produção. Ao longo do tempo, essa redução de oferta pode permitir uma recuperação gradual de preços em patamares economicamente sustentáveis.
Comparativo – Produtividade vs. sustentabilidade econômica
| Unidade | Custo de caixa (USD/t) | Preço atual (USD/t) | Status |
|---|---|---|---|
| Europa A | 650 | 590 | Prejuízo |
| Ásia B | 620 | 600 | Margem muito baixa |
| Brasil C | 500 | 590 | Lucrativa |
Estratégias da Suzano
Para enfrentar o cenário adverso, a Suzano atua em três frentes principais. A primeira é a eficiência operacional. O custo caixa recuou 4% no terceiro trimestre, para 801 reais/ton, e já se situa abaixo de 800 reais no quarto trimestre. A redução de custos com madeira, energia, logística e insumos químicos e o novo contrato de fornecimento de madeira com a Eldorado, que deve reduzir o consumo por tonelada em 4% a partir de 2026, são fundamentais para manter a competitividade.
A segunda frente é a disciplina financeira. A alavancagem aumentou para 3,3x EBITDA, mas a dívida líquida permaneceu estável. O fluxo de caixa livre foi positivo mesmo com despesas extraordinárias de 1 bilhão de reais. Além disso, a emissão de títulos de 1 bilhão de dólares com o menor spread da história permitiu alongar prazos e preservar liquidez.
A terceira frente é a diversificação em negócios de maior valor agregado. A unidade de embalagens registrou seu primeiro EBITDA positivo, atingindo 542 milhões de reais, enquanto a fábrica nos EUA se tornou lucrativa pela primeira vez. A empresa também expande papéis voltados ao setor alimentício, reduzindo a dependência do mercado de embalagens líquidas.
Cenário futuro e perspectivas
O colapso global da celulose indica que o setor enfrentará um ciclo de ajuste prolongado, com fechamento de capacidade em regiões de custo elevado, consolidação de produtores mais eficientes e recuperação lenta dos preços em patamares sustentáveis. Para investidores e stakeholders, o cenário reforça a importância de eficiência operacional, disciplina financeira e diversificação, garantindo resiliência em um ambiente de margens comprimidas.
A Suzano enfrenta um momento desafiador, com preços internacionais historicamente baixos e forte pressão sobre margens. No entanto, sua estratégia de redução de custos, gestão financeira cuidadosa e diversificação em negócios de maior valor agregado deve permitir atravessar este ciclo adverso e posicionar a empresa para oportunidades futuras.
O colapso global da celulose, embora preocupante, também cria espaço para ajustes de mercado e para que os produtores mais eficientes se fortaleçam.
