A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) realiza, nesta sexta-feira (7), uma programação especial em homenagem aos 100 anos da formatura de Carlos Drummond de Andrade no curso de Farmácia. O poeta, natural de Itabira (MG), concluiu o curso em 25 de dezembro de 1925, antes de se tornar um dos maiores nomes da literatura brasileira.
O evento ocorre na Faculdade de Farmácia da UFMG, em Belo Horizonte, e celebra a união entre ciência, arte e poesia. A iniciativa busca mostrar como o olhar sensível do escritor reflete o mesmo cuidado que um farmacêutico dedica à saúde de seus pacientes.
Uma homenagem à formação e à sensibilidade de Drummond
A celebração é promovida pela Faculdade de Farmácia, em parceria com o Centro de Memória da Farmácia (Cemefar), o Centro de Comunicação da UFMG (Cedecom) e a Pró-reitoria de Cultura (Procult). O evento foi pensado para resgatar o percurso acadêmico do autor e destacar sua contribuição para a cultura brasileira.
A programação começa com o lançamento do documentário “Drummond: a farmacologia das palavras”, produzido pela TV UFMG. O filme revela a relação entre o escritor e a profissão de farmacêutico, mostrando como sua formação influenciou sua maneira de compreender o mundo.
Em seguida, o público acompanha a apresentação “Pedras, palavras e silêncio: o universo de Drummond”. Logo depois, o ator Odilon Esteves interpreta a leitura dramática “Drummond e a pharmácia: 100 anos de uma formatura”.
O encerramento contará com o debate “Drummond: entre a farmácia e a poesia”, que propõe uma reflexão sobre a união entre ciência e arte. Por fim, uma placa comemorativa será descerrada em homenagem ao poeta.
“As palavras também curam”: o legado humano de Drummond
Para Ana Paula Lucas Mota, diretora da Faculdade de Farmácia da UFMG, o olhar de Drummond reflete o verdadeiro espírito do cuidado.
“Assim como os remédios curam as dores do corpo, as palavras podem curar as dores da alma”, destacou Mota.
A diretora lembrou que a trajetória do poeta foi marcada pela empatia e pela observação do cotidiano. Segundo ela, Drummond levava para a literatura o mesmo rigor e a mesma delicadeza que um farmacêutico aplica ao manipular seus medicamentos.
Durante sua juventude em Belo Horizonte, o escritor conviveu com estudantes e pensadores que se tornariam grandes nomes da cultura mineira. Essa convivência despertou nele o interesse por temas sociais e humanos, que mais tarde seriam base para sua poesia.
Arte, memória e novas gerações
Além das homenagens, a programação inclui a apresentação das obras vencedoras do concurso artístico promovido pela Faculdade de Farmácia, pela Escola de Belas Artes e pela Pró-reitoria de Cultura.
Dois projetos foram escolhidos:
- Uma pintura mural, criada por Erick Moreira Alves e Maria Eduarda de Oliveira Ferreira.
- Uma obra bidimensional, assinada por Lara Ferreira dos Reis.
Essas obras representam o elo entre ciência e arte. O mural, em especial, retrata o poeta como um “farmacêutico das palavras”, alguém que manipula versos capazes de curar e inspirar.
Um gesto de preservação e afeto
A Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), sediada em Itabira, também celebrou a iniciativa da UFMG. Para Vanessa Faria, superintendente da fundação, a homenagem é um gesto de valorização da memória cultural do poeta.
“Celebrar o centenário da formatura de Drummond é reafirmar a presença viva de sua obra na formação cultural do país”, afirmou Faria.
“Drummond ultrapassou o tempo e as fronteiras da literatura, tornando-se símbolo de sensibilidade, ética e reflexão sobre o humano.”
Ela ressaltou que o evento demonstra o compromisso da universidade com a preservação da cultura nacional e com o estímulo à reflexão humanista nas novas gerações.
A ponte entre a farmácia e a poesia
Embora tenha se tornado um dos maiores escritores do país, Drummond nunca se afastou totalmente da ciência. Sua formação em Farmácia influenciou profundamente seu modo de pensar e escrever.
A precisão nas palavras e a observação meticulosa da vida são reflexos de seu olhar científico. Da mesma forma que um farmacêutico busca equilíbrio entre os elementos químicos, o poeta equilibrava emoção e razão em seus versos.
Em poemas como “José” e “Mãos Dadas”, é possível perceber a lógica quase experimental de sua escrita. Drummond analisava o mundo como quem analisa uma substância — observando cada detalhe antes de oferecer o antídoto em forma de poesia.
Cem anos que unem gerações
O centenário da formatura de Drummond vai além de uma simples comemoração. É um lembrete da importância de unir ciência, arte e sensibilidade na formação humana.
Para a UFMG, o evento reforça o papel da universidade como espaço de memória, cultura e conhecimento. A figura de Drummond continua inspirando professores, alunos e artistas, que veem na sua trajetória um exemplo de como o saber técnico e o olhar poético podem caminhar lado a lado.
“A poesia também é uma forma de ciência”, declarou um dos organizadores do evento. “Ambas exigem rigor, empatia e dedicação à vida.”
Drummond, sempre atual
Mesmo após cem anos, Carlos Drummond de Andrade permanece atual e essencial. Sua obra ultrapassa o tempo e fala diretamente às novas gerações.
A homenagem da UFMG reafirma essa permanência. Em tempos de pressa e excesso de informação, sua poesia continua lembrando que o cuidado e a reflexão são tão importantes quanto o conhecimento técnico.
Revisitar Drummond é revisitar o Brasil — um país que ainda busca equilíbrio entre razão e emoção, corpo e alma, ciência e arte.
Conclusão
A comemoração dos 100 anos da formatura de Carlos Drummond de Andrade na Faculdade de Farmácia da UFMG é mais do que um tributo. É um reconhecimento da força curativa das palavras e da importância de cultivar a sensibilidade na educação e na ciência.
Em 1925, Drummond se formou farmacêutico. Em 2025, ele continua formando leitores, curando almas e inspirando o país com sua poesia.
