O Chile viveu neste domingo (16) um dia decisivo em sua história política. Mais de 11 milhões de eleitores foram às urnas para escolher quem disputará a Presidência do país no período 2026–2030 — a primeira eleição presidencial com voto obrigatório desde 2012.
Com mais de 80% das urnas apuradas às 21h25, o resultado confirmou o esperado: a candidata Jeannette Jara, da coalizão de esquerda, e José Antonio Kast, da direita, avançaram para o segundo turno, que ocorrerá em 14 de dezembro.
Jara teve 26,71% dos votos, enquanto Kast alcançou 24,12%, consolidando uma disputa polarizada que deve marcar as próximas semanas no país.
Contexto da eleição: segurança domina o debate
A campanha presidencial chilena foi fortemente marcada pela segurança pública, hoje o tema mais sensível do país.
O Chile, que por décadas carregou a fama de ser o país mais seguro da América do Sul, viu seu índice de homicídios quase triplicar entre 2015 e 2024. Esse cenário coincidiu com:
- um aumento intenso da migração venezuelana,
- e a entrada da organização criminosa Trem de Aragua, originada em presídios da Venezuela.
Com isso, a criminalidade passou a ser frequentemente associada à imigração — um assunto amplamente explorado nas campanhas, sobretudo pela direita.
Quem são os candidatos
Jeannette Jara (51 anos) — Esquerda / Coalizão governista
- Primeira candidata comunista a disputar a Presidência desde o retorno da democracia no Chile.
- Uma das figuras mais reconhecidas do governo Boric, responsável por pautas populares como:
- Lei das 40 horas,
- Aumento do salário mínimo.
- Apesar disso, manteve certa distância do governo durante a campanha, enfatizando diferenças de estilo e prioridades.
- Promete ampliar políticas sociais e reformas estruturais, sem foco em corte de gastos.
- Declarou que deixará o Partido Comunista caso seja eleita, buscando uma imagem mais ampla e moderada.
José Antonio Kast — Direita / Partido Republicano
- Esta é sua terceira tentativa presidencial. Perdeu para Boric em 2021.
- Figura dominante na direita chilena, defensor de políticas de linha dura contra o crime.
- Baseou sua campanha em segurança, controle migratório e medidas rígidas contra organizações criminais.
- Recebeu rapidamente o apoio das principais lideranças e candidatos derrotados do campo conservador.
Apoios e movimentações após o primeiro turno
Logo após a confirmação do segundo turno, o clima político se intensificou.
Apoios a Jeannette Jara
- A candidata agradeceu os votos recebidos e pediu que seus apoiadores transmitam “uma mensagem de esperança e futuro”.
- Reconheceu avanços propostos por outros candidatos, especialmente na área da saúde.
- Seu maior desafio será romper a tendência das pesquisas, que apontam vantagem da direita no segundo turno.
Apoios a Kast
- Recebeu apoio imediato de Evelyn Matthei (centro-direita), uma das figuras mais populares do país, que reconheceu a derrota e declarou apoio total.
- Também ganhou o respaldo do libertário Johannes Kaiser, que afirmou que seu partido “honra a palavra” e apoiará Kast no dia 14 de dezembro.
- Kast agradeceu publicamente os apoios, prometendo solucionar o que considera serem “falhas” do governo Boric.
Reação do governo Boric
O presidente Gabriel Boric parabenizou Jara e Kast pela passagem ao segundo turno e pediu que a próxima etapa do processo eleitoral seja conduzida com “altura de visão”, buscando debates que ofereçam soluções reais para os principais problemas do Chile.
Cenário para o segundo turno
Pesquisas realizadas ao longo do primeiro turno indicam que a direita tende a entrar em vantagem na próxima fase da disputa, especialmente com:
- forte preocupação da população com segurança,
- eleitores de direita já alinhando apoio a Kast,
- e o centro político inclinado a migrar majoritariamente para a oposição.
Apesar disso, analistas lembram que o segundo turno no Chile costuma ser imprevisível e depende muito da capacidade de mobilização e narrativa de cada campanha.
A disputa entre Jeannette Jara e José Antonio Kast tende a ser uma das mais polarizadas dos últimos anos. O Chile chega ao segundo turno dividido entre dois projetos distintos:
de um lado, uma candidatura que aposta na ampliação de políticas sociais; do outro, uma plataforma baseada em segurança e combate rígido ao crime.
Com o voto obrigatório, a participação deve novamente ser alta, e o resultado no dia 14 de dezembro promete ser decisivo para os rumos políticos, econômicos e sociais do país nos próximos anos.
