A Operação Spare, deflagrada em setembro de 2025 pela Receita Federal e pelo Ministério Público de São Paulo, revelou um esquema sofisticado do Primeiro Comando da Capital (PCC) para lavar dinheiro do crime organizado usando uma rede de motéis e empresas hoteleiras. A investigação aponta que cerca de 60 motéis movimentaram mais de R$ 450 milhões entre 2020 e 2024, com várias unidades localizadas na Grande São Paulo e na Zona Leste da capital paulista.
O esquema de lavagem de dinheiro
Os motéis usados pelo PCC estavam registrados em nomes de “laranjas” para ocultar a origem ilícita dos recursos. Durante quatro anos, esses estabelecimentos movimentaram cifras milionárias, com distribuição ilegal de lucros e dividendos que beneficiaram os sócios ligados à facção. Um dos motéis chegou a distribuir impressionantes 64% da receita bruta declarada como lucro, evidenciando a dimensão financeira do esquema.
Além dos motéis, os restaurantes instalados dentro desses empreendimentos também tiveram papel importante na lavagem, operando com CNPJs independentes e movimentando valores milionários. Um desses estabelecimentos distribuiu R$ 1,7 milhão em lucros após registrar receita de R$ 6,8 milhões entre 2022 e 2023.
Locais investigados
Os motéis identificados ficam em cidades como Ribeirão Pires, Itaquaquecetuba, Santo André, São Bernardo do Campo, além de diversos bairros da Zona Leste de São Paulo. Entre os estabelecimentos estão:
- Maramores Empreendimentos Hoteleiros
- Motel Uma Noite em Paris
- Motel Chamour
- Motel Casual
- Sunny Empreendimentos Hoteleiros
- Mille Motel
- Marine Empreendimentos Hoteleiros
- Ceesar Park Empreedimentos Hoteleiros
- Motel Vison
Dinâmica financeira e movimentações suspeitas
A investigação revelou que muitos CNPJs ligados aos motéis realizaram operações imobiliárias suspeitas, como compras de imóveis de alto valor — um deles adquiriu um imóvel de R$ 1,8 milhão em 2021 e outro de R$ 5 milhões em 2023. Outros bens, como um iate de 23 metros, também foram objeto de movimentação financeira para disfarçar a origem dos recursos.
A complexidade das movimentações exigiu a criação de uma contabilidade paralela para registrar transações do esquema, dificultando o rastreamento e a elucidação pelos órgãos fiscais e policiais.
Ação e desdobramentos da Operação Spare
Na operação, 25 mandados de busca e apreensão foram cumpridos, tanto em estabelecimentos quanto em endereços de pessoas físicas relacionadas ao esquema. Foram apreendidos cerca de R$ 1 milhão em espécie, além de celulares, computadores e armas.
O combate à lavagem de dinheiro por meio de motéis integra uma ofensiva maior, que também investiga o PCC no setor de combustíveis adulterados, jogos de azar e outras atividades ilícitas.
A Operação Spare evidenciou como o crime organizado evolui e diversifica as estratégias de lavagem de dinheiro, utilizando setores aparentemente comuns, como o hoteleiro, para manter o fluxo financeiro ilegal. O desmantelamento dessa rede representa um avanço contra as operações ilegais do PCC e reforça a necessidade de fiscalização rigorosa dessas atividades em São Paulo.