Uma descoberta que surpreende a arqueologia
Durante séculos, os estudiosos enxergaram as múmias egípcias como o ápice das técnicas de preservação do corpo humano na Antiguidade. No entanto, novas pesquisas revelam que a prática da mumificação é muito mais antiga e diversa do que se imaginava. Um estudo publicado na revista científica PNAS apresentou evidências de múmias com até 12 mil anos de idade no sul da China e em regiões do sudeste asiático. Essa datação dobra a linha do tempo em relação às múmias egípcias, que surgiram por volta de 6 mil anos atrás.
Essa descoberta redefine a história da arqueologia e da antropologia, porque mostra que diferentes povos desenvolveram métodos próprios para lidar com a morte de forma ritualística muito antes de o Egito se tornar o berço da mumificação clássica.
Como funcionava esse processo milenar
Ao contrário da técnica egípcia, que utilizava resinas, bandagens e processos químicos, as sociedades caçadoras-coletoras da Ásia recorreram ao fogo e à fumaça. Pesquisadores descobriram que, logo após a morte, os corpos eram colocados em posição fetal perto de fogueiras de baixa intensidade.
Esse aquecimento lento desidratava gradualmente os tecidos, sem incinerar o corpo. O processo, que podia durar semanas ou até meses, impedia a decomposição natural e transformava os cadáveres em múmias resistentes ao tempo.
Evidências científicas da descoberta
Arqueólogos analisaram 54 esqueletos encontrados em abrigos rochosos e montes funerários no sudeste asiático. Em 84% dos restos mortais, identificaram marcas físicas e químicas compatíveis com exposição prolongada ao calor e à fumaça.
Além disso, utilizaram ferramentas avançadas, como difração de raios X e espectroscopia de infravermelho, que confirmaram a preservação intencional. Esses resultados demonstram de forma sólida que a mumificação milenar não se trata de especulação, mas sim de um fato científico comprovado.
Diferenças culturais em relação ao Egito
Enquanto no Egito os corpos recebiam bandagens elaboradas, resinas aromáticas e eram depositados em tumbas monumentais, os povos asiáticos adotavam outro tipo de cuidado. Após a defumação, enterravam os corpos em cavernas, abrigos rochosos ou até em montes de conchas.
Essa prática refletia tanto a geografia da região quanto a visão espiritual das comunidades que viveram entre o final do Pleistoceno e o início do Holoceno.
Significado espiritual da mumificação
Mais do que conservar o corpo, a mumificação tinha profundo valor simbólico. Para as comunidades asiáticas, manter o falecido visível e próximo reforçava os laços familiares e garantia a continuidade do pertencimento ao grupo. Assim, o corpo defumado se transformava em uma ponte entre vivos e mortos, reafirmando tradições espirituais que sustentavam a coesão social.
Práticas que resistem ao tempo
Curiosamente, tradições semelhantes ainda permanecem vivas em grupos indígenas da região de Papua, na Indonésia. As comunidades Dani e Pumo, por exemplo, continuam a defumar os corpos de líderes e anciãos, preservando-os em posição fetal. Dessa forma, mantêm viva a memória e a força espiritual dos ancestrais.
Implicações para a história mundial
A datação dessas múmias, muito anterior às egípcias, comprova que a criatividade humana em lidar com a morte surgiu de forma independente em vários lugares. Além disso, reforça a ideia de que a mumificação não foi um invento exclusivo do Egito, mas sim um fenômeno multicultural.
Essa descoberta coloca o sudeste asiático como região-chave para entender os primeiros passos da humanidade na ritualização da morte.
As chamadas “múmias mais antigas do mundo” mudam completamente a perspectiva da arqueologia tradicional. Ao revelar que sociedades de 12 mil anos atrás já dominavam métodos sofisticados de preservação, os pesquisadores abrem um novo campo de estudos sobre a diversidade cultural da pré-história. Em última análise, essas descobertas mostram que, em diferentes tempos e lugares, os seres humanos sempre buscaram formas de eternizar sua presença, deixando marcas capazes de resistir por milênios.