Entidade religiosa usa ayahuasca para tratar dependência química em MS: uso é considerado ilegal por autoridades

Entidade religiosa usa ayahuasca para tratar dependência química em MS; autoridades consideram prática ilegal

Em Mato Grosso do Sul, uma entidade religiosa tem atraído atenção ao promover o uso de ayahuasca como tratamento para dependência química. A prática gera debates intensos entre ciência, religião e saúde mental. Enquanto a comunidade religiosa defende os efeitos positivos do ritual, autoridades afirmam que o uso da substância em contextos terapêuticos é ilegal, levantando questões sobre limites entre tradição, legislação e segurança pública.

Ayahuasca: religião e cura

Uma prática ancestral

A ayahuasca é uma bebida preparada a partir de plantas como Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis, usada há séculos por comunidades indígenas do Amazonas em rituais de cura, purificação e autoconhecimento. A entidade religiosa em MS afirma que o consumo da bebida permite uma “limpeza mental” e ajuda os participantes a se reconectar consigo mesmos, enfrentando traumas e padrões de comportamento que contribuem para a dependência química.

Aplicação terapêutica: promessa e risco

Segundo os líderes do grupo, o ritual atua como uma forma de terapia psicossocial. Durante a cerimônia, os participantes vivenciam estados de consciência alterados que podem revelar aspectos ocultos da personalidade. A entidade sustenta que essa “autoavaliação” contribui para o processo de superação da dependência.

No entanto, pesquisas científicas ainda não confirmam a eficácia do uso da ayahuasca como tratamento médico para dependência química. A falta de evidências robustas e de protocolos clínicos confiáveis torna a prática arriscada e coloca em questão sua legitimidade como abordagem terapêutica.

Legislação e o uso ilegal da substância

Classificação e restrições legais

No Brasil, a ayahuasca é considerada uma substância psicoativa controlada pelo Ministério da Saúde e pela Polícia Federal. A legislação permite o consumo da bebida apenas em contextos religiosos devidamente regulamentados. O uso fora desses ambientes, especialmente para tratamento de dependência, configura atividade ilegal.

Conflito entre direitos religiosos e proteção à saúde

O debate se intensifica quando se confronta o direito à liberdade religiosa, garantido pela Constituição Brasileira, com a obrigação do Estado de proteger a saúde pública. Autoridades federais alertam que a administração de ayahuasca sem acompanhamento médico pode causar efeitos psicológicos adversos, sobretudo em pessoas com histórico de dependência.

Além disso, a ausência de protocolos clínicos e de suporte profissional aumenta o risco de reações indesejadas, incluindo ansiedade intensa, confusão mental ou agravamento de sintomas psiquiátricos.

Críticas e desafios da abordagem terapêutica

Falta de comprovação científica

Embora os defensores afirmem que a ayahuasca provoca mudanças comportamentais profundas, estudos científicos sobre seu uso como tratamento da dependência química permanecem preliminares. A maior parte das pesquisas foca em efeitos psicológicos momentâneos e não em resultados clínicos comprovados.

Portanto, utilizar uma substância controlada e ilegal em contexto terapêutico levanta sérias dúvidas sobre segurança, eficácia e ética profissional. Especialistas em saúde mental recomendam cautela e alertam que métodos comprovados, como terapias comportamentais e acompanhamento médico, continuam sendo essenciais para o tratamento de dependência.

O equilíbrio entre fé e segurança

O caso em Mato Grosso do Sul evidencia um dilema crescente no país: como conciliar tradições espirituais com a proteção da saúde pública. Por um lado, grupos religiosos buscam oferecer apoio emocional e espiritual. Por outro, autoridades precisam garantir que práticas potencialmente perigosas não coloquem vidas em risco.

Enquanto o debate continua, famílias, profissionais de saúde e órgãos de fiscalização permanecem atentos. A discussão envolve não apenas aspectos legais, mas também éticos e científicos, reforçando a importância de políticas claras e educação sobre os riscos de substâncias psicoativas no tratamento de dependência química.

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