Reunião no Palácio Guanabara marca nova aliança contra o crime
Nesta quinta-feira (30), o governador Cláudio Castro (PL-RJ) reuniu seis governadores aliados no Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro, para anunciar a criação do “consórcio da paz”. O grupo pretende unir forças e compartilhar estratégias de segurança pública entre os estados, com foco no combate ao crime organizado.
O encontro ocorreu apenas dois dias após a megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, que terminou com 121 mortos, entre eles quatro policiais. O clima era de união política e fortalecimento da cooperação interestadual. Embora nenhum plano operacional imediato tenha sido apresentado, os líderes afirmaram que a integração é o primeiro passo para uma resposta nacional contra o avanço da criminalidade.
Objetivo do consórcio e integração de forças
Segundo Cláudio Castro, o consórcio seguirá o modelo de outras iniciativas estaduais bem-sucedidas, como o Consórcio Nordeste, mas com foco exclusivo em segurança e inteligência policial.
“Queremos dividir experiências e soluções. Precisamos de coragem, diálogo e efetividade”, destacou o governador. Ele propôs que a sede do consórcio fique no Rio de Janeiro, o que reforça o protagonismo do estado na luta contra o crime.
Além disso, Castro anunciou que uma nova reunião será marcada nas próximas semanas para convidar outros estados a integrar o projeto. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), explicou que a ideia é permitir o deslocamento imediato de tropas e o compartilhamento de informações sem burocracia.
Dessa forma, em casos de emergência, um estado poderá apoiar o outro com agilidade. Já o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), ressaltou que todos os estados participantes deverão contribuir com seus melhores recursos, sejam eles de inteligência, logística ou treinamento.
Governadores elogiam operação e reforçam união
Durante o encontro, todos os governadores elogiaram a operação do Rio. Romeu Zema (Novo-MG) afirmou que a ação foi “bem planejada e executada com eficiência”. Segundo ele, o resultado deve servir de exemplo para o país, pois mostrou como o trabalho conjunto entre forças policiais pode gerar resultados expressivos.
Jorginho Mello destacou a coragem dos agentes e disse acreditar que a operação entrará para a história da segurança pública brasileira. Além disso, o governador elogiou o profissionalismo das equipes e afirmou que o resultado comprova a importância do investimento em inteligência.
Por outro lado, Celina Leão, vice-governadora do Distrito Federal, cobrou maior envolvimento do Governo Federal. De acordo com ela, o país precisa tratar a segurança como prioridade nacional. “O governo se mobiliza rapidamente para temas econômicos. No entanto, quando o assunto é segurança, o debate avança devagar”, criticou.
ADPF das Favelas e o papel do STF
Cláudio Castro aproveitou o momento para elogiar o Supremo Tribunal Federal (STF) pela decisão que estabeleceu diretrizes para as operações policiais em comunidades do Rio, conhecidas como ADPF das Favelas.
O governador afirmou que a decisão “abre um caminho claro para a retomada de territórios e para a integração entre forças de segurança”. Ele acrescentou que o Rio pode servir como laboratório nacional de políticas de segurança pública, testando soluções que depois podem ser aplicadas em todo o Brasil.
Assim, segundo Castro, o estado se transforma em um ponto estratégico na luta contra o crime organizado e o tráfico de drogas.
Criação do Escritório Emergencial de Combate ao Crime Organizado
Na quarta-feira (29), um dia antes da reunião, Cláudio Castro e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, lançaram o Escritório Emergencial de Combate ao Crime Organizado. O núcleo será coordenado pelo secretário de Segurança do Rio, Victor Santos, com o apoio do Governo Federal.
Entre as ações imediatas, estão o envio de 50 agentes da Polícia Rodoviária Federal, o reforço da área de inteligência e a disponibilização de vagas em presídios federais. Além disso, peritos federais atuarão nas investigações das organizações criminosas desarticuladas na megaoperação.
Lewandowski afirmou que o objetivo é fortalecer a cooperação entre estados e União, garantindo rapidez nas respostas e maior eficiência no uso dos recursos de segurança.
Nova lei amplia combate ao crime organizado
Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma nova lei contra o crime organizado, publicada no Diário Oficial da União. A legislação, proposta pelo senador Sergio Moro (União-PR), endurece as punições e amplia a proteção de agentes públicos.
A norma cria dois novos tipos penais:
- Obstrução de ações contra o crime organizado, com penas de quatro a doze anos de prisão;
- Conspiração para obstrução, que pune acordos para planejar atos de violência mesmo que não executados.
Além disso, a lei garante reforço na segurança pessoal de juízes, promotores, policiais e militares, inclusive aposentados, que estejam sob risco. Dessa forma, o texto fortalece a proteção de quem atua diretamente na repressão ao crime.
Desafios e críticas ao consórcio
Apesar do entusiasmo político, analistas apontam que o consórcio ainda enfrenta desafios estruturais. É necessário definir regras claras de atuação e financiamento para evitar sobreposição de competências.
Além disso, organizações de direitos humanos criticaram a megaoperação no Rio devido ao alto número de mortes. Contudo, os governadores defenderam a ação e destacaram que nenhum civil inocente foi atingido.
Romeu Zema afirmou que o foco deve ser manter o equilíbrio entre eficiência policial e respeito às leis, garantindo que o enfrentamento ao crime não gere mais violência social.
Cooperação como saída para o futuro
O consórcio da paz representa um passo importante na cooperação entre estados brasileiros. Ao integrar recursos, informações e estratégias, os governadores esperam reduzir o poder do crime organizado e melhorar a resposta das polícias em situações críticas.
Em seguida, uma nova reunião deve ser agendada para ampliar o grupo e definir metas de curto e médio prazo. Enquanto isso, o Escritório Emergencial começa a estruturar as primeiras ações conjuntas entre os estados.
Por fim, Cláudio Castro reafirmou que o consórcio simboliza “uma nova era para a segurança pública”. Segundo ele, o país precisa agir de forma unida, sem divisões políticas, para garantir a tranquilidade da população.
Caminho para uma nova política de segurança
Em síntese, o consórcio da paz surge como uma tentativa concreta de transformar a forma como o Brasil enfrenta o crime. A união entre governadores, a criação de um escritório emergencial e a nova legislação federal indicam um movimento coordenado em prol da segurança.
Portanto, o sucesso do projeto dependerá da capacidade de articulação e execução conjunta entre os estados. Se funcionar, poderá se tornar um modelo nacional de combate ao crime organizado, com foco em inteligência, rapidez e integração — pilares essenciais para um país mais seguro.
