Nicolas Sarkozy é preso: entenda o que a prisão do ex-presidente francês tem a ver com Muammar Khadafi
O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy iniciou nesta terça-feira (21) o cumprimento de pena de cinco anos de prisão na penitenciária de La Santé, em Paris. A Justiça o condenou por conspirar para financiar sua campanha eleitoral de 2007 com dinheiro do ditador líbio Muammar Khadafi, morto em 2011.
Com a decisão, Sarkozy se torna o primeiro ex-presidente francês preso desde a Segunda Guerra Mundial, marcando um momento histórico e polêmico na política europeia.
Primeira prisão de um ex-líder desde 1945
Desde a prisão do colaborador nazista Philippe Pétain, em 1945, nenhum ex-líder francês havia sido encarcerado. Sarkozy, que governou o país entre 2007 e 2012, agora ocupa uma cela isolada de 9 metros quadrados, equipada com banheiro, chuveiro e televisão.
A medida visa garantir sua segurança, já que a penitenciária abriga traficantes e condenados por terrorismo.
Na manhã da prisão, mais de cem apoiadores se reuniram em frente à casa do ex-presidente, no 16º distrito de Paris. Convocados por seu filho Louis, os manifestantes gritaram palavras de apoio e exibiram bandeiras da França. Às 9h40 (horário local), Sarkozy chegou à prisão sob forte esquema de segurança.
A reação de Sarkozy
Momentos antes de ser levado para La Santé, Sarkozy publicou uma mensagem no X (antigo Twitter):
“Não tenho dúvidas. A verdade prevalecerá. Mas quão esmagador será o preço.”
Em outro trecho, escreveu:
“Não é um ex-presidente que eles estão prendendo esta manhã — é um homem inocente. Sinto tristeza por uma França humilhada por um desejo de vingança.”
O ex-presidente afirma que não deseja tratamento especial e que cumprirá a pena “de cabeça erguida”. Ele levou consigo dois livros: A Vida de Jesus e O Conde de Monte Cristo, símbolo da injustiça na literatura francesa.
O caso Khadafi: o elo entre Paris e Trípoli
O processo que levou Sarkozy à prisão gira em torno de supostos repasses de milhões de euros da Líbia para sua campanha presidencial de 2007.
Segundo o Ministério Público francês, o então candidato teria prometido a Khadafi apoio diplomático e político em troca dos recursos ilegais.
As investigações apontam que dois assessores próximos de Sarkozy, Brice Hortefeux e Claude Guéant, participaram de reuniões com o chefe de inteligência líbio, intermediadas pelo empresário franco-libanês Ziad Takieddine, que morreu no Líbano pouco antes da condenação.
Embora Sarkozy tenha sido absolvido de receber o dinheiro pessoalmente, ele foi considerado cúmplice em associação criminosa, o que levou à sua condenação.
Macron e autoridades reagem à prisão
Dias antes de ser preso, Sarkozy foi recebido no Palácio do Eliseu pelo presidente Emmanuel Macron, que comentou o caso de forma cautelosa:
“É normal, em nível humano, que eu receba um dos meus antecessores nesse contexto.”
O ministro da Justiça, Gérald Darmanin, também expressou apoio:
“Não posso ser insensível à angústia de um homem.”
Ele prometeu visitar o ex-presidente e garantir a integridade física e psicológica do preso.
Recurso e status legal
Apesar da prisão, Sarkozy segue recorrendo da sentença. Segundo a defesa, a execução imediata da pena representa uma “violação do direito à ampla defesa”.
Enquanto o recurso aguarda julgamento, ele continua sendo considerado legalmente inocente, embora esteja detido devido à “excepcional gravidade dos fatos”, conforme decisão judicial.
Um capítulo histórico para a França
Além de Pétain, apenas o rei Luís XVI, executado em 1793, havia sido um chefe de Estado francês encarcerado. O caso de Sarkozy, portanto, carrega peso histórico e simbólico.
Para muitos, a prisão reforça o compromisso da França com a igualdade perante a lei. Para outros, representa um episódio de perseguição política.
Independentemente do ponto de vista, o episódio marca um divisor de águas na política francesa e reacende o debate sobre ética, poder e responsabilidade pública.
